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Chaves Eletrônicas de Portas de Quartos de Hotel
do que se trata?
Caros Homens de Valor,
Provavelmente, o título deste artigo chamou sua atenção. Afinal, o que há para se falar sobre chaves eletrônicas de portas de quartos de hotel em uma segunda-feira qualquer as 06:37am? Antes que você questione, deixa eu confessar: sim, eu coleciono essas chaves. Há anos, venho guardando cartões de acesso de inúmeras viagens pelo mundo, a maioria delas a trabalho.

O colecionismo pode surgir de diferentes motivações. Alguns veem como um investimento, outros encontram puro prazer em algo específico. Para mim, esse hobby envolve buscar, adquirir, organizar e preservar objetos de interesse pessoal ou valor, uma prática que já me levou a colecionar moedas, selos, marcas de cigarro, miniaturas de carros e, nos últimos 20 anos, cartões de hotéis.
Aspectos Psicológicos e Filosóficos do Colecionismo
Recentemente, deparei-me com uma leitura sobre os aspectos comportamentais dos colecionadores que me fez refletir. Psicologicamente, o colecionismo pode refletir a necessidade de controlar algum aspecto do mundo. Organizar e catalogar itens pode trazer um senso de ordem e previsibilidade. Também pode ser um reflexo das paixões e identidade do colecionador, servindo como forma de autoexpressão e até mesmo como um meio de construir e comunicar sua identidade. Em alguns casos, pode evoluir para uma compulsão, vista como um sintoma de condições mais profundas, como o transtorno obsessivo-compulsivo ou de acumulação. Aquele leve TOC.
Lembro-me com carinho de uma vizinha na infância que acumulava qualquer coisa que encontrava pela rua. Chegou ao ponto de precisarem chamar a vigilância sanitária para lidar com a quantidade de objetos que ela acumulava. Fica claro que se tratava ai de um colecionismo compulsivo. De alguma forma aqueles objetos que ela encontrava pela rua fazia sentido em sua mente.
A Filosofia por Trás do Colecionismo
Pensando agora de forma mais filosófica, colecionar pode refletir a possessividade e o impacto de acumular objetos na busca por significado ou felicidade na vida. Além disso, pode ser uma maneira de lidar com a consciência da mortalidade, preservando itens como forma de deixar um legado ou alcançar uma forma de imortalidade. Este aspecto eu acho que faz muito sentido, pois lembro da coleção de moedas do meu avô. Ali, naquela coleção, de alguma forma, lembro dele falando das moedas e me traz sua imortalidade de um jeito peculiar. Jean Baudrillard, o filósofo francês, discutiu como os objetos colecionáveis carregam significados e participam de um sistema de trocas sociais e pessoais que transcendem seu valor material.
Minha Experiência com Cartões de Hotel
Se eu juntar todos estes aspectos psicológicos e filosóficos, bater tudo e fazer um suco, no meu caso – em particular dos cartões de acesso as portas dos quartos de hotéis – acho que seria, em resumo, um pouco estranho e exótica esta coleção. O processo funciona mais ou menos assim:
Quando entro em um hotel, já me sinto ansioso para adquirir pelo menos duas chaves no check-in, sempre pensando se já possuo aquele modelo específico de cartão. Normalmente se você está se hospedando sozinho, o hotel lhe dá 1 chave. Mas por motivos óbvios, eu sempre solicitava 1 a mais com o papo que poderia esquecer dentro do quarto e que não ia querer descer fazer nova chave. Mal sabe que 1 destes cartões era para a coleção. Nos EUA, nunca me pediram os cartões de volta no checkout, enquanto na Europa e no Brasil é comum que lembrem você de devolvê-los. Essa prática se tornou parte da tramoia para manter minha coleção.
Pude notar também que no final dos anos 90, os hotéis tinham suas redes distintas e atualmente estas mesmas redes fazem parte de um conglomerado maior sob uma mesma marca. Até isso ficou bem chato no mundo. Por exemplo, eu costumava me hospedar em hotéis da Hampton Inn no início dos anos 2000. Esta rede já deu uma reviravolta e hoje faz parte dos hotéis Hilton. E com isto os cartões da rede agora são iguais, todos By Hilton. É raro encontrar, principalmente nos EUA, hotéis de rede que não façam parte de grandes redes.Com o passar do tempo, muitos hotéis aderiram a redes maiores, e os cartões se tornaram uniformizados, o que desanimou um pouco minha coleção.
Meus cartões estão armazenados em um armário, e às vezes os revisito, o que me traz lembranças vívidas das viagens e experiências com pessoas.
Lembranças Particulares

Uma dessas lembranças é de um cartão do Hotel da Legoland em Billund, na Dinamarca, onde fui para um treinamento. Eu olho para este cartão e me vejo naquele hotel temático todo feito de pecas de lego. Pecas de Lego em toda parte. Na ocasião fui para um treinamento em um fornecedor, que inclusive até hoje permanecemos grandes parceiros de negócios. Lembro do gerente que cuidava da conta da empresa e que inclusive já faleceu. A alegria dele era me hospedar no hotel da Lego que é um orgulho para os dinamarqueses. Lembrei dele e de como foi bacana o ter conhecido. Lembro também do meu filho que sempre amou os quebra-cabeça da lego e eu queria levar um saco de lego embora para ele. É pegar o cartão e lembrar disto tudo.

Outra lembrança marcante que me vem à mente ao segurar um cartão é da minha primeira viagem a Las Vegas. Organizada pela APEX, a viagem reuniu um grupo de empresários da região em um evento extremamente enriquecedor, repleto de encontros, rodadas de negócios, boa comida e muita diversão. Essa viagem teve uma peculiaridade notável: a APEX, através de seu programa de Ethanol nos EUA, patrocinava uma equipe de Fórmula Indy na qual corria o piloto brasileiro Tony Kanaan. No encerramento do evento, Tony proferiu uma palestra para um grande público vindo de todo o Brasil e, ao final, houve um sorteio que oferecia a três sortudos a chance de experimentar a emoção de andar em um carro de Fórmula Indy no circuito de Las Vegas Speedway. Para minha surpresa, fui um dos ganhadores!
No dia seguinte, a organização do evento providenciou trajes de piloto e uma breve introdução sobre o que esperar da experiência. A Fórmula Indy disponibilizou um carro de corrida adaptado com um assento extra logo atrás do piloto, praticamente em cima do motor. No circuito, três pilotos profissionais estavam prontos para nos levar para dar quatro voltas em alta velocidade. Tive o imenso prazer de ser passageiro do lendário piloto de Indy, Mario Andretti. Foram quatro voltas inacreditáveis em uma pista oval, a bordo de um IndyCar.
Infelizmente, o evento foi marcado por um trágico acontecimento no dia seguinte, durante a corrida. Presenciei um horrível acidente que levou à morte do piloto Dan Wheldon. Este incidente sombrio contrastou profundamente com a empolgação do dia anterior, deixando uma lembrança agridoce dessa viagem inesquecível.
Colecionar é mais do que um hobby; é uma maneira de manter vivas as memórias e experiências significativas. Cada pessoa tem suas manias e sabores da vida. Encontre as suas e faça valer a pena.
Guarda o choro, arregaça as mangas e vamos pra cima!
Boa semana
Luigino Rigitano