Coragem Masculina

e a Imigração Italiana para o Brasil

Caro Homem de Valor

Sempre me pego pensando em meus antepassados. E acaba sendo profundo este sentimento na lógica simples de que, se eles não tivessem existido, eu não estaria aqui agora escrevendo. Parece algo bem pueril de se pensar. Mas, além disso, o fato é que, se um homem não tivesse tido certa coragem, eu não teria existido. Lembro de conversas com meu avô sobre a vinda da família ao Brasil. Dá para se confundir se tudo foi um ato de coragem ou de extrema necessidade. É claro que, quando uma necessidade nos coloca contra a parede, existe dentro de cada um o instinto de sobreviver, da luta animal e da proteção da prole. Mas, acima de tudo isso, para se lutar diante de uma necessidade extrema, é necessária uma atitude de muita coragem.

Os imigrantes italianos enfrentaram diversos desafios e adversidades, demonstrando coragem de várias formas que se alinham com os elementos da definição do que se trata a coragem masculina. Traço na mente um paralelo entre esse ato de imigrar de meus antepassados com a coragem masculina daquele momento e trazendo isso para um contexto atual.

No dia em que meu bisavô, um homem italiano calabrês, tomou a decisão de partir de sua terra enfrentando uma jornada longa e perigosa pelo Atlântico, muitas vezes em condições insalubres nos navios, ele exerceu sua máxima coragem de homem. Ao chegarem ao Brasil, encontraram um ambiente desconhecido e muitas vezes hostil. A necessidade de adaptar-se a novas condições de vida, aprender um novo idioma e enfrentar o preconceito exigiu uma condição emocional extraordinária. As condições de trabalho eram frequentemente exploradoras nas fazendas de café e nas indústrias. Apesar disso, muitos mantiveram sua integridade, formando comunidades coesas que valorizavam a ética do trabalho, a solidariedade e a justiça social.

Demonstraram uma enorme capacidade de adaptação, integrando-se à sociedade brasileira enquanto mantinham suas tradições culturais. Eles evoluíram, contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e cultural do Brasil. Essa adaptabilidade foi essencial para o sucesso de sua integração e prosperidade no novo país.

Este ato de coragem é de tamanho valor que jamais irei conseguir agradecer. Continuo neste pensamento, tentando levantar um paralelo para qual ato de coragem masculina minha geração consegue exercer em nossa sociedade contemporânea. Eu talvez não teria a coragem do meu bisavô em largar toda a família, amigos e o pouco conquistado para tomar rumo em algo totalmente desconhecido. Sem contar que a comunicação na época era praticamente inexistente. Era como se tivesse morrido e nascido em algum outro lugar do mundo e recomeçado do zero. Qual ato de coragem se equivale atualmente?

Em certos momentos me julgo um completo fracote diante da coragem do meu bisavô. Às vezes falta coragem até para dizer o que se pensa de fato sobre um assunto, sobre uma crença ou até sobre algo que gostaria que fosse diferente. Será que o homem moderno perdeu sua coragem? Para onde ela foi? Talvez essa sensação de segurança relativa do mundo atual nos tenha deixado de alguma forma menos corajosos. Saímos do ponto A para o ponto B no conforto de um veículo, conectados com o mundo e conversando com quem ficou e com quem iremos nos encontrar. É tudo quase que muito banal.

Em uma sociedade atual baseada em imagem, talvez a maior coragem hoje seja simplesmente deixar de aparecer. Qual outra coragem na vida lhe falta?

Obrigado aos meus antepassados pela coragem rumo ao desconhecido. Hoje estou aqui lembrando de todos vocês.

Uma semana corajosa para todos.

Luigino Rigitano