- Dio Santo NewsLetter
- Posts
- Inutilidade Digital
Inutilidade Digital
da Fotografia ao Smartphone
Caros Homens de Valor
Não dá para negar o quanto a revolução digital trouxe benefícios para a sociedade. Na verdade, nem dá para chamar de benefício, mas sim de uma total e profunda mudança cultural da sociedade do planeta Terra. No amplo e significativo conjunto de mudanças, uma das que mais me provoca é a facilidade de acesso às informações. Toneladas de terabytes, para ser um tanto grosseiro, espalhados em servidores em todos os cantos do mundo, conectados por cabos óticos subaquáticos que interligam continentes. É algo, às vezes, inimaginável.
Estas mudanças drásticas e extremamente rápidas, trouxeram alterações na percepção humana quanto as coisas básicas do cotidiano. E o sentimento parece ser de que, quanto mais fácil temos acesso às informações, menos conseguimos assimilar de fato o que é importante, ou talvez, dar foco naquilo que realmente queremos extrair para um novo conhecimento agregador ou até para sanar uma dúvida sobre um determinado tema. Ainda mais agora, com o advento do ChatGPT, fica mais crítico aquilo que obtemos como respostas das informações que buscamos no prompt da tela. Informações e dados que, em boa parte do tempo, vêm de forma equivocada, trazidos pela IA, dependendo do que e como perguntamos. A IA busca informações nas toneladas de terabytes espalhadas pelos servidores por aí. Tudo digital. Como saber se a informação trazida pela IA esta correta sem algum tipo de conhecimento mínimo prévio? Desconfie da IA, vejo ela errar a todo momento.

Mas talvez o que mais me deixa angustiado neste processo revolucionário dos bytes em servidores, é a distância à qual ficamos dessas mesmas informações que hoje temos como tão fácil acesso. Uma dessas informações são as imagens, em especial a fotografia.
Antes dessa era, a fotografia era um processo físico e tangível, onde a captura de uma imagem envolvia filmes fotográficos que precisavam ser revelados e impressos em papel. Esse processo criava um vínculo especial entre a imagem e o observador, que apreciava cada foto como um objeto único e físico. A fotografia tornou-se instantânea e amplamente acessível. As câmeras digitais e, agora, os smartphones, permitem que qualquer pessoa capture e visualize imagens imediatamente. Armazenamento digital (na nuvem), edição rápida e compartilhamento instantâneo por meio de redes sociais transformaram a fotografia em uma experiência mais dinâmica e interativa. Mas afinal, onde estão essas fotografias? No iCloud, Google Drive, pendrive, backup, na internet? Onde?

Clicar no smartphone de forma quase que compulsiva para registrar coisas que talvez nunca tivessem sido motivo de um verdadeiro registro e as quais nunca mais iremos ver novamente no próprio smartphone. Uma pessoa qualquer, nos últimos 10 anos, deve ter registrado milhares e milhares de imagens, das quais a grande maioria já nem sequer se lembra, e talvez uma boa parte delas já tenham se perdido entre pen drives e iClouds. Quem nunca teve um smartphone quebrado que tinham toneladas de imagens? Quem nunca teve que “formatar” o computador e lá tinha imagens aos montes?
Afinal de contas, quem hoje em dia para em frente a uma tela para apreciar registros fotográficos importantes um dia em nossas vidas? Se uma visita chega à sua casa, você liga sua TV para compartilhar sua tonelada de fotos mostrando registros importantes da sua vida?
Talvez meus netos não tenham acesso a esses arquivos perdidos em servidores e senhas de acesso no futuro. A materialidade de momentos importantes da minha vida será simplesmente “deletada” um dia por inatividade no sistema para desocupar espaço ou por falta de pagamento do serviço da Apple.

Não se trata aqui de saudosismo e muito menos de desacreditar que a digitalização das coisas é um processo importante na evolução humana. Trata-se sim, da volatilidade daquilo que fazemos, da inutilidade de uma inundação de informação sem sentimento e propósito, e de uma overdose de registros de momentos inúteis da nossa vida. De uma certa forma é isto que a revolução também traz. Um monte de tempo gasto inutilmente e sem propósitos.
Que delícia ter um álbum de fotos impressas da família, dos amigos, dos filhos pequenos e de momentos que tornam nossas vidas especiais.
Registre momentos especiais, deixe um legado de imagens que façam parte de sua trajetória aqui na terra. Faça um album. As gerações futuras irão agradecer.
Boa semana.
Luigino Rigitano