MALBEC

Uma Expêriencia A Ser Vivida

Coluna: Amor por Vinho
Sommelier André Diniz

Olá meus amigos!! Sejam muito bem vindos a mais uma oportunidade de viajarmos juntos pelo fantástico mundo de Baco.

Semelhante as viagens de Odisseu, teremos muitas aventuras por aqui também, embora, não como ele que se encontrava perdido e sem conseguir voltar para Ítaca, vocês terão a mim como guia, e prometo lhes levar a praias mais belas que as da própria Circe.

Comecemos então a jornada de hoje.

Cahors, France - Foto de Fred Augé

Após navegarmos por águas lusitanas, em mares nunca dantes navegados... onde pudemos experimentar os inebriantes aromas do Vinho do Porto emoldurado pelos sabores do cacau, vos convido a sair das margens do rio Douro a caminho das margens de outro rio, agora na França, o rio Lot. Mais precisamente a comuna de Cahors berço original da uva Malbec.

Como tudo que se refere ao vinho e as vinhas também têm seu lado mítico, algumas lendas locais sem comprovação dizem que ela pode ser originária de outra região.

Conhecida na região como Cot, posteriormente passou a ser chamada de Malbec; nome pelo qual é mais conhecida mundialmente e que possivelmente venha da deturpação do nome de um viticultor húngaro, Monsieur Malbeck, radicado em Bordeaux, que supostamente havia trazido essa espécie de outro local.

Uva Malbec - Foto de Mauro Lima

No entanto atuais análises de DNA, indicam que a Malbec advém de forma espontânea da Prunelard, uma casta muito antiga da região de Tarn e da casta Magdaleine Noir da região de Charents, uva essa que também e a mãe da Merlot.

Ou seja, Malbec e Merlot são meio irmãs.

A região de Cahors se aninha num meandro do rio Lot, cercada de montanhas e colinas íngremes e calcário árido. Os primeiros vinhedos datam de 92dc, sendo frequentemente citado como o mais antigo vinho da Europa e se tornou conhecido por sua cor intensa e densidade como o “vinho negro” de Cahors.

Os vinhos de Cahors, desde a idade média são longevos e escuros com forte personalidade, tendo nessa época seu maior impulso pelas mãos da rainha Eleonor de Aquitânia.

Nascida em 1122 em Poitiers, herdeira do imenso ducado da Aquitânia por seu próprio direito, casou-se em 1137 com Luis VII vindo a se tornar rainha consorte da França de 1137 à 1152, tendo como vinho principal de seu casamento, o “Vinho Negro de Cahors”. Após 15 anos de casamento, pediu anulação ao Papa Eugenio III, anulação concedida, com base em consanguinidade, pois eram primos de 4º grau. Suas duas filhas foram consideradas legítimas e ficaram sob a guarda de Luis, tendo suas terras devolvidas.

Logo após a anulação, se casou com Henrique, Duque da Normandia e Conde de Anjou em 1152. Dois anos depois, ela e seu marido, agora Henrique II, foram coroados rei e rainha da Inglaterra.

Foi sem dúvida nenhuma, uma das mulheres mais importantes de sua época, tendo sido rainha tanto da França quanto da Inglaterra. Foi uma defensora do amor cortês, realizando grandes festas entre seus cavaleiros e suas damas, onde era servido o “vinho negro” de Cahors fomentando as histórias dessa bebida como a propulsora das suas “cortes do amor”.

Bordeaux, France - Foto de Árpád Czapp

Nessa época chegaram a ser plantadas quase 60.000 hectares de Malbec no sudoeste de Bordeaux, onde era utilizado para dar vigor, corpo e tonalidade até mesmo aos grandes vinhos da região.

Tudo foi esplendor para o Malbec até final de 1800, quando enfim sofreu um golpe devastador do qual nunca mais iria se recuperar.

A praga da Filoxera que dizimou praticamente todos os vinhedos da Europa e eliminou quase que sem piedade a Malbec do velho continente.

Uma história que começou feliz, mas que parecia ter um final triste, se não fosse novamente o novo mundo salvando o velho mundo.

Em 1850, um pouco antes da devastação da filoxera, chega à Argentina as primeiras mudas de Malbec, pelas mãos do botânico francês Michel Aime Pouget.

Assim, ao contrário do fim trágico de Odisseu ao chegar a Ítaca, que acaba sendo morto por Telégono seu filho, a Malbec iria encontrar sua terra prometida.

Mendoza, Argentina - Foto de Paul Lucyk

Essa casta, que de forma geral tem maturação mais tardia (demora um pouco mais pra ficar pronta pra colheita – amadurecer), é susceptível ao frio e a falta de sol, encontrou em Mendoza um clima seco e ensolarado, propício ao seu desenvolvimento.

Como vimos, e vocês com certeza já devem ter experimentado, a Malbec tende a produzir vinhos de cor profunda e muito corpo, com predominância de notas de frutas negras e altos níveis de taninos macios. Faz parceria muito boa com a madeira, seja o carvalho francês ou o americano, surgindo notas especiadas e criando vinhos elegantes e comportados, com bom potencial de guarda.

Quando cultivada em menores altitudes, tem mais corpo e notas de frutas mais aparentes; já quando os vinhedos sobem as íngremes escarpas da cordilheira, exibe aromas mais frescos e mais florais, com fortes traços de violeta; aromas esses que não aparecem nos vinhos de Cahors, pois é uma combinação das cepas plantadas na Argentina, ar rarefeito, raios ultravioleta e mutação genética clonal.

Como podemos ver, a Malbec é uma uva de grande diversidade, apresentando vinhos para todos os gostos, dependendo da região em que é cultivada e a forma com que o viticultor emprega seu Savoie faire; similarmente a sua variedade de nomes, mais de 130 catalogados por Jancis Robson, entre eles os mais conhecidos: Malbec, Cot, Auxerrois, Noir de Pressac e Prunelat.

Para tanto, inspirado pela variedade de nomes e de possibilidades de prazeres inenarráveis em vinhos inesquecíveis e diferentes, convido-vos, agora sim, semelhante as peripécias de Odisseu, a se perderem, não apenas por 17 anos, mas pra toda vida. A se deliciarem nos deleites que um bom “Vinho Negro” pode lhe trazer... jamais se prendendo ou se deixando ser preso em Eéas, só que não por Circe, mas sim por Catenas... Luigis Boscas... e Almas Negras...

Provem tudo o que um Malbec pode lhes trazer... e enfim, ao final, alcancem Ítaca... mas sim a Ítaca que vale a pena ser alcançada, á do hedonismo e do conhecimento.

E quando o fizerem, ergam a taça e brindem... não só a vocês mesmos... mas também a Eleonor de Aquitania e aos nossos hermanos Argentinos, pelo belo trabalho que fizeram...

Até a próxima meus amigos, agora argonautas etílicos como eu!!!

André Diniz dos Santos Carmo
Bacharel em Administração de Empresas
Pós-graduado Administração Financeira
Mestrado em Modelo Dinâmico de Gestão Financeira aplicado ao mercado varejista de aço (Modelo Fleuriet)
Técnico em Piscinas de Alvenaria / Tratamento de Piscinas / Empreiteiro Civil - Piscinas
Sommelier Charutos Academia Del Tabaco – Cesar Adames
Sommelier Charutos – ABS (Associação Brasileira de Sommelier – SP)
Seminário Dannemann de Imersão em Tabaco – (São Felix – BA)
WSET – nível 2 – “Pass with distinction”
Cursando Sommelier Profissional – ABS (Segundo Ano)