Resiliência

Entre a Moda e a Teimosia

Caros Homens de Valor,

De tempos em tempos, certos conceitos tornam-se moda e infiltram-se em nosso vocabulário diário, muitas vezes carregados de uma psicologia superficial e uma aura de autoajuda. Entre esses termos, "resiliência" se destaca — uma palavra que parece ter se transformado em um mantra obrigatório tanto para empreendedores, gestores e profissionais.

Curiosamente, minha percepção era de que o termo havia se popularizado apenas nos últimos cinco ou seis anos. Eu não lia ou ouvia nada sobre “resiliência” nos anos 80, 90 e 2000. Mesmo com o advento da internet no início dos anos 90, não era notada esta palavra em textos e artigos.
Movido pela curiosidade, recorri ao Google Ngram Viewer e, bingo! - confirmei que seu uso realmente escalou significativamente desde o início dos anos 2013. Olha que maluco isso:

A "resiliência" é celebrada em diversos contextos: na psicologia como a habilidade de recuperar-se de adversidades; na ecologia, definindo a capacidade de um ecossistema se regenerar após distúrbios; e na infraestrutura urbana, como a aptidão de cidades para resistir e adaptar-se a desastres. Há casos onde resiliência chega ser a busca do impossível.

No mantra para o mundo dos negócios, ser resiliente é enfrentar adversidades, superar desafios e rapidamente se recuperar de contratempos, não apenas sobrevivendo, mas prosperando diante da incerteza. Entretanto, a proliferação de frases feitas como "superar desafios", "tropeçar e levantar" e "nunca desistir dos seus sonhos" às vezes pode saturar o verdadeiro significado da resiliência, tornando-o um clichê motivacional muito barato. No final das contas, certas adversidades são irreversíveis e ponto. Ser forte e manter o foco em coisas erradas, me parece uma “resiliência” burra.

Isso me leva a questionar: até que ponto ser "resiliente" é saudável antes de se tornar uma obsessão? Onde traçamos a linha que divide a resiliência e a mera teimosia? Quando a obviedade deve ceder lugar à perseguição incessante da resiliência?

Estamos diante de uma encruzilhada, caros amigos. Onde uma das possíveis conclusões é simplesmente dizer: "Basta!". Às vezes, continuar pode significar apenas, retroceder.

É fascinante observar como "resiliência" se infiltrou em literaturas, podcasts, palestras — em todo o arsenal do "mundo dos negócios". Ainda estou formulando minhas conclusões sobre esse fenômeno e continuarei a ponderar, tentando discernir onde a resiliência termina e a teimosia começa. Afinal, tudo tem seu limite.

Numa reflexão em aberto nesta segunda-feira de maio de 2024, deixo um conselho: saiba quando parar. A conta da resiliência, no final das contas, é sempre pessoal. Cuidado para não pagar um preço alto demais por algo que, por exemplo, nao vale tua saúde física, mental e espiritual

Tenham todos uma boa semana.

Luigino Rigitano