A Metamorfose de Shenzhen

Olá, Grandes Homens!

A oportunidade de visitar parceiros de tecnologia em Shenzhen, no final de 2023, foi um dos privilégios que a vida me concedeu. Shenzhen não é apenas a metrópole mais avançada tecnologicamente do planeta, mas também um pulsante coração inovador, abrigando gigantes como a Huawei, conhecida por sua vanguarda em tecnologias 5G; a DJI, pioneira em drones civis e fotografia aérea, dominando o mercado global; a BYD, líder em fabricação de veículos elétricos e baterias; e a Foxconn Technology, com suas imensas instalações de montagem, fornecendo eletrônicos para marcas de renome mundial como Apple e Sony.

Minha jornada entre reuniões, almoços e jantares foi um mergulho profundo na essência de Shenzhen e seu papel vital no cenário tecnológico e econômico da China. A revelação mais surpreendente desta viagem, foi descobrir que até o início dos anos 80, Shenzhen era uma modesta vila de pescadores. Hoje, representa 21,74% do PIB do Brasil, ou, o PIB da cidade de Shenzhen è maior que o PIB do nosso campeão, o estado de Sao Paulo — um crescimento que desafia a imaginação.

Iniciativa Governamental e Planejamento Estratégico

A transformação começou quando Deng Xiaoping introduziu Shenzhen como a primeira Zona Econômica Especial da China em 1980. Localizada ao lado de Hong Kong, a cidade foi preparada para ser o berço do progresso tecnológico e do investimento estrangeiro.

Shenzhen gozou de políticas econômicas favoráveis, ganhando uma autonomia sem precedentes para promover uma economia de mercado. A infraestrutura robusta, a educação focada e um contínuo fluxo de mão de obra qualificada aceleraram a revolução industrial e tecnológica local.

Socialista, Comunista ou Capitalista? A Complexidade Chinesa

Embora oficialmente socialista sob o comando do Partido Comunista Chinês, a China tece uma complexa estrutura econômica que mescla controle estatal rigoroso com uma vibrante economia de mercado. A exata natureza desse sistema é um enigma, com um controle estatal onipresente, mesmo sobre as menores empresas.

Explorando Shenzhen, testemunhei uma cidade onde tudo opera com uma eficiência estonteante. Entretanto, é impossível ignorar a quantidade de câmeras e uma sensação de "liberdade vigiada" na cidade, que possui um dos sistemas de vigilância por cameras, mais avançados do mundo.

Adaptação do Modelo de Shenzhen ao Contexto Democrático Brasileiro

A revolução econômica de Shenzhen, meticulosamente orquestrada pelo governo chinês e seu partido comunista, destaca o poder da ação estatal focada e decisiva na reconfiguração de uma cidade e seu tecido econômico. No entanto, esse modelo enfrenta desafios únicos quando consideramos sua aplicação em uma democracia tradicional como a do Brasil, com seus múltiplos partidos, liberdades civis e processos burocráticos que buscam a participação e o consenso. Como seria “desenrolar” a complexa forma de implementação de mudanças estruturais profundas em uma sociedade que valoriza a pluralidade de vozes e a alternância de poder? Ao refletir sobre as características distintas da governança democrática brasileira, observamos as potencialidades e as limitações para realizar reformas econômicas e infraestruturais ambiciosas, como aquelas vistas em Shenzhen, sem comprometer os princípios democráticos que formam a espinha dorsal do sistema político do país.

Uma Shenzhen no Brasil? O Desafio de Senzão - A Shenzhen Brasileira

Refletindo sobre a possibilidade de replicar esse milagre urbano no Brasil, nasce o conceito de "Senzao". Será que uma de nossas vilas poderia espelhar o sucesso de Shenzhen? As diferenças culturais, de valores e de liberdade saltam aos olhos, criando uma nuvem de dúvida sobre a viabilidade de tal empreendimento em nosso solo. Enquanto a liberdade e a democracia são pilares de nosso país, a necessidade de diretrizes estratégicas e continuidade nas políticas se mostra um desafio no nosso ambiente político volátil.

Contudo, permanece a convicção de que, sem uma reavaliação de nosso sistema e uma abordagem estratégica duradoura, o sonho de uma "Senzao" brasileira continuará distante.

Há uma solução para termos nosso Senzao ?

Otima semana!