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Uma uva... Um rótulo... Um vinho... Um deleite!!!
Olá meus amigos!! Ou, como melhor nos intitulamos no último artigo, tripulantes... marinheiros etílicos...
Tal qual Ulisses, que levou cerca de um ano para se libertar das “garras” de Circe, esse que vos escreve, também levará mais um tempo aqui, ainda encantado pelos “poderes” da Malbec...

Mas claro, não seria qualquer Malbec que teria tamanho poder de encantamento, precisaria ser “o” Malbec, teria de ser algo quase sobrenatural...
Circe na mitologia grega, foi descrita pelo famoso poeta Homero, não somente como uma feiticeira de poderes insofismáveis, mas, mais do que isso, aliava também a esse poder uma beleza capaz de rivalizar com a própria Afrodite.
Assim é o Malbec que ainda me prende aqui....
Embora, eu vos tenha exortado a se libertarem de “Eéa”... peço que me deem esse voto de confiança e permaneçam comigo por apenas mais um momento.
Hoje vou lhes falar de um ícone, não só de sabor e corpo suntuoso, elegante e equilibrado, mas também, de tamanha beleza externa, que inebria o sentido do olhar; nos causando receio de maculá-lo com a “agressividade” de um saca-rolhas, ainda que este se encontre nas hábeis mãos de um experiente sommelier.
Falo-vos do Catena Zapata Malbec Argentino.
Confesso que, o texto seria outro, se, e somente se, este ícone não tivesse sido colocado novamente em minhas mãos pela generosidade de uma pessoa que posso dizer, mudou a minha vida... um de meus patrões... mas que sem dúvida tenho a consideração de um amigo...

Ganhei dele essa garrafa... e ao abri-la e tocá-la, novamente a magia tomou conta de mim...
Seu rótulo por si só é uma experiência à parte... na minha humilde opinião rivaliza aos Mouton-Rothschild os quais já tiveram a honra de serem feitos diversos pintores famosos, entre eles Jean Paul Riopelle em 1978, Hans Erni em 1988 e Balthus em 1993 entre outros (seu rotulo muda a cada safra).
É sabido e claro que a influência do design gráfico e do branding pode mudar a opção de compra no ponto de venda, sendo o rótulo o fator determinante na escolha ou no distanciamento. Antigamente os rótulos eram simples e tradicionais, se limitando a informar a safra, produtor, região, etc, tendo uma abordagem mais conservadora; hoje já são mais criativos e ousados, passando de uma simples questão estética a um instrumento capaz de transmitir emoções, percepções e até mesmo contar uma história...
E é aí meus amigos, que nos aproximamos de Cila e Caríbdis... as “sereias” que lá vivem nos aguardam com suas doces vozes e sua linda música, prestes a nos atraírem e nos levarem à ruina... como diz David Schuemann, da empresa CF Napa Brand Design, “Sempre fazemos (através do rótulo) um vinho parecer US$10 mais caro do que é. Então ele parece ser de melhor qualidade e ter um melhor custo benefício”.
Mas não com vocês que tem a mim como guia... tal como Ulisses orientou seus marinheiros a tamparem os ouvidos com cera de abelha pra não ouvirem as cantigas das sereias, eu serei vossas “ceras”, orientando e aconselhando a não cair nas armadilhas dos “reservados” e afins....
É o que acontece com esse Ícone... Concordo!!! Tem um preço elevado... e um rótulo lindo... mas vale cada mísero centavo investido...
Vamos a ele;
Seu rotulo é feito em papel de máxima qualidade, praticamente percebe-se ao toque uma sensação de alto-relevo. Pelos seus limites superior e inferior imita as bordas entrecortadas de antigos mapas geográficos feitos em couro. Predominam as cores barbante e negro, com especial destaque o vermelho brilhante para as estrelas que compõe o “vin negri”, os cachos de uva Malbec.
As 4 figuras femininas, semelhantes a afrescos renascentistas, cada qual com seus requintes de detalhes, traduzem de maneira simbólica 10 séculos de vida, morte e renascimento da nobre casta.

Sendo, da esquerda para a direta:
Eleonor de Aquitânia – nascida em 1122, foi rainha da França e da Inglaterra, uma regente forte e admirada por seu povo e a grande força por traz da difusão e paixão pelo “vin negri”. Ao lado de sua figura, a emblemática Pont Valentré, construída em 1308, cartão Postal de Cahors, região originária da uva Malbec. A seus pés um primata, simbolizando a alegria de suas cortes que exaltavam o amor cortês e eram regadas pelo nobre vinho da região, elogiado desde o período da dominação romana.
A Imigrante – representando os imigrantes europeus em sua viajem ao novo mundo, tem o tronco coberto de flechas a “imagem” de São Sebastiao, aludindo às angústias e o sofrimento vivenciados na nova terra. Em sua mão direita um mapa do novo mundo e a esquerda uma mecha com sementes da uva. Aos pés, as ondas do oceano Atlântico simbolizam os perigos da longa viajem.
A Phyloxera – representada por uma figura com rosto feminino e corpo esquelético, representa a praga que destruiu quase que todos os vinhedos da Europa durante o século XIX. Seus pés estão cobertos de caveiras aludindo a figura da morte que ocorre pelo ataque dos pulgões nas raízes da parreira.
Adrianna Catena – quarta geração da família Catena Zapata, representa o renascimento da uva Malbec. Na ilustração é possível ver ao fundo os Andes, onde se encontram os vinhedos de alta altitude responsáveis pela produção desse maravilhoso vinho. À direta o globo, deixando à mostra a América do Sul, também aludindo ao local de renascimento da casta e a importância do Malbec Argentino para o mundo. Aparece ainda a seus pés um violino, que mostra o gosto da família Catena Zapata pela música, bem como a seu lado a pitoresca pirâmide da Bodega, um tributo as culturas indígenas locais que transformaram o deserto de Mendoza em uma terra fértil por meio da canalização do desgelo das cordilheiras.
Embora o rótulo, como descrevi, seja no mínimo magnífico, é ao abrir a garrafa que nos encantamos ainda mais...
Produzido a partir de parcelas selecionadas dos vinhedos Nicasia e Angélica, as uvas são colhidas manualmente e vinificadas separadamente. Para dar maior potência e corpo, são utilizados 20% de cachos inteiros (Bagas e grainhas) sem adição de leveduras selecionadas, o mosto é fermentado pelas próprias leveduras presentes nas cascas das uvas (leveduras selvagens – autóctones) em barricas de carvalho de 225 – 500 litros. Passando posteriormente de 12 a 18 meses em barricas de carvalho francês para amaciamento e maturação.
Tamanho esmero, resulta em um vinho límpido, de tonalidade rubi e traços púrpura de intensidade profunda. No nariz, tem intensidade pronunciada, com aromas primários e secundários.

Logo que colocado na taça, com a temperatura de serviço mais próxima dos 15º prevalece um floral com nuances de violeta, típico da Malbec quando cultivada em altas altitudes, onde a escassez de oxigênio, as baixas temperaturas e a maior incidência de insolação, fazem a sua magia... magia essa muito mais prestigiosa que a da própria Circe... Conforme a temperatura da taça sobe, se aproximando dos 18º, e a oxigenação entra em ação, o vinho passa a se abrir, passo a passo, como quando uma deusa se entregando aos braços de um mortal...
Primeiro surgem os aromas frutados, predominando as frutas vermelhas e negras, em especial cereja e amora, no entanto, tais frutas parecem que estão fundidas as especiarias e a um leve nuance de tabaco, como que se tivessem sido criadas por um alquimista, tamanha a perfeição... não se pode separá-las no olfato....
Ao declinar o vinho na boca, temos uma sensação de preenchimento completo. É um vinho seco, de acidez presente, taninos completamente polimerizados e dóceis no palato. Apesar dos seus 14% de álcool nenhuma sensação pseudotérmica é percebida, o mesmo se encontra perfeitamente integrado. Os sabores se reptem aos dos aromas, mas o prazer se intensifica.
Após engoli-lo, o vinho demora a nos deixar, como um amigo dileto que se apraz da nossa companhia e hesita em partir quando é chegada a hora. E ao partir, sentimos saudades e declinamos outro gole, até que nos apercebemos, se foi a garrafa.
Catena Zapata Malbec Argentino, nome emblemático, mas que sem dúvida representa toda expressividade que essa casta pode atingir no terroir argentino. Assim, o serve bem!!!
Enfim, caros amigos, tripulantes, marinheiros, se vocês forem apaixonados por vinhos, em especial vinhos de Malbec, que mais posso eu vos dizer... Apenas provem... Provem... Provem...
Certas coisas na vida são investimentos, no entanto se encontram travestidos de outros nomes, como despesa, desperdício... tais como lobos em pele de cordeiros...
Se você, somente você... não merecer esse investimento... quem mais ou o que mais no mundo mereceria??? Pensem nisso, em especial acompanhado por um Catena Zapata Malbec Argentino!!
Até a próxima!!!

André Diniz dos Santos Carmo
Bacharel em Administração de Empresas
Pós-graduado Administração Financeira
Mestrado em Modelo Dinâmico de Gestão Financeira aplicado ao mercado varejista de aço (Modelo Fleuriet)
Técnico em Piscinas de Alvenaria / Tratamento de Piscinas / Empreiteiro Civil - Piscinas
Sommelier Charutos Academia Del Tabaco – Cesar Adames
Sommelier Charutos – ABS (Associação Brasileira de Sommelier – SP)
Seminário Dannemann de Imersão em Tabaco – (São Felix – BA)
WSET – nível 2 – “Pass with distinction”
Cursando Sommelier Profissional – ABS (Segundo Ano)